quarta-feira, 2 de março de 2011

Diário dos Açores

Escrito por Luís João Costa
Terça, 14 Dezembro 2010 11:30
"Era uma vez uma coisa qualquer." este é o título da exposição de pintura do artista açoriano Gabriel Garcia patente no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor. A mostra foi inaugurada no passado dia 27 de Novembro no Centro Cultural de Ponte de Sor.

Gabriel Garcia tem 32 anos, nasceu na ilha do Pico, mais concretamente na freguesia da Madalena do Pico, completou o liceu na cidade de Ponta Delgada, na Escola Secundária Antero de Quental, de onde saiu em 1997 para um curso de pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Gabriel Garcia vive desde de 1997 em Lisboa onde trabalha presentemente dedicando-se por inteiro ao seu projecto artístico.

Gabriel Garcia apresenta na cidade de Ponte de Sor através da sua exposição de pintura mais um conjunto de histórias editadas com o cunho da pintura, do desenho e da instalação.

Gabriel Garcia tem apresentado ao longo do trabalho realizado um verdadeiro livro de contos fantásticos enfatizando a comédia e a ironia da sociedade que o rodeia.

O trabalho artístico de Gabriel Garcia é preenchido por um imaginário fundado nos mestres do sonho e da bestaria (Bosh, Bruegel, Goya, entre outros), através dos seus trabalhos transporta os ideais predefinidos na pintura e na gravura destes, e deste imaginário usurpa a sua ideologia recreando uma muito própria.

Na exposição patente no Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor as bestas não são tão definidas ou mesmo hilariantes como em outras obras realizadas pelo artista, em que esses seres têm intensa presença. Segundo foi possível constatar através da pintura de Gabriel Garcia onde antes as bestas tinham cara de criança, temos agora homens ou mulheres, seres horríveis e temerosos mas, simultaneamente cómicos e irónicos. No passado a plebe era protagonista da mais grotesca paródia, em carnavais e outras manifestações onde profano, religião e todos os seus temores se misturavam em representações grotescas corporais, e a utilização de máscaras parodiando a coisa sagrada chegava a ser blasfema. Esqueciam-se as hierarquias, elevava-se uma nova ordem social, onde o poder era superado pelo medo da morte e do diabo representado pelas máscaras burlescas.

Através da exposição é possível constatar que o nosso tempo é sem dúvida outro, a Idade Média e o poder de Deus foi sobreposto por outros temores, talvez o temor de um tal FMI, que nos faz viver uma outra asfixia social.

De acordo como o artista plástico pode-se dividir a exposição em duas partes. De um lado uma caixa de sonhos, uma entrada num quarto escuro repleto de surpresas e de personagens que foram criadas com um motivo especifico, num tempo e num lugar precisos. Elevam-se também figuras engarrafadas na noite negra onde o monstro é peludo e se escutam os demónios existentes dentro de nós. Por outro lado a pintura, o carnaval, a paródia, o claro e o escuro, as sombras. O Pinóquio protagonizado em forma de máscara como modelo. O feio vai a caminho de assumir lugar privilegiado e as gomas dão brilho ao desejo e ao pecado.

A exposição de pintura de Gabriel Garcia estará patente até 18 de Janeiro de 2011, contanto com cerca de onze pinturas e uma instalação onde no seu interior estão expostos mais de 60 desenhos.

Aos 32 anos Gabriel Garcia assume que na arte possui um percurso natural com exposições aqui e ali, onde destaca a participação na Trienal de Praga (República Checa) em 2008, um projecto da de intercâmbio com uma galeria (Perve galeria em Lisboa) e a Galeria Nacional de Praga. Durante um ano esteve ligado a essa galeria. Presentemente está associado com a "Artelection" e a Galeria António Prates em Lisboa, onde já efectuou desde exposições individuais e colectivas. Destaque também para a sua ultima participação na Feira de Arte de Lisboa 2010.

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