terça-feira, 1 de março de 2011

“ Milhares de olhos observam para te deixar cair em tentação “


Para lá das trevas, existe uma passadeira que chama, uma porta entreaberta.
Pela fresta deslumbra-se o nono circulo, o anjo negro. Ele é o senhor que cativa os gestos e os desejos pretendidos.
Entre as portas e a luz, fica a tentação.
Viver na liberdade, desejar o que é pecado, flutuar verticalmente entre as bestas, sedutoras e eróticas e amar os sonhos, beijá-los e tratar por tu os pesadelos.
De cada sonho, o relato histórico do mesmo, prevalece sempre na escuridão. As sombras, os vultos, contornados por linhas e luz, salvo o acaso dos pesadelos, imagens gravadas que nunca esquecemos, figuras miticas como as do anjo negro, com cornos pontiagudos e sedutoras gargalhadas escancaradas, envolvendo-nos pela lingua vermelha, cravada de fogo que se tranforma em sangue.
Não sou poeta, mas acredito no lirismo da vida e da liberdade. Talvez acreditar no pecado e na sua sedução, do suor, dos liquidos que fluem sobre a minha mente, deixando para trás a merda do egocentrismo mediático daquelas estrelas de uma constelação falsa e ridicula.
Acredito no céu e na sua beleza, mas as gargalhadas que vêm do outro lado, o calor que chama por mim e por ti, faz das minhas fantasias mais obscuras, verdadeiras linhas poéticas redigidas em papel transparente e em tinta invisivel.
“ A poesia deve ser feita por todos não por um”
O Uno não existe, mas faz dele Senhor das almas pacificas que fazem escárnio do vagabundo à saida da missa do meio dia.
Somos feitos daquilo que acreditamos e do que nos querem fazer acreditar. Prefiro imaginar e acreditar numa realidade absoluta, numa surrealidade, mas usando o termo ou a definição como ela é, nua e crua , e não como uma futilidade.
A minha realidade já não é a mesma dos surrealistas de 1949, nem a sociedade é a mesma, nem o mundo é o mesmo, mas o sol ainda nasce do mesmo lado e adormece no mesmo sentido. O tempo parece mais rápido, mas a fantasia que me invade pára qualquer cronómetro digital, e o banquete é servido pelas medusas em pele, lavadas em mil águas de rosas, perfumes que invadem a tenda montada á beira de uma praia deserta, á luz prata do luar.
As bestas divertem as ostes e os ramos de oliveira servem de ornamento aos cornos dos minotauros que farejam as donzelas.
No fim da festa servem-se maçãs em caramelo, sedutora tentação que trinco e rumino entre a lingua e os dentes, sussuro a um qualquer anjo demoniaco na pele de uma deusa do olimpo - “Que o tesão chegue e o teu corpo me pertença”.




Texto de Gabriel Garcia
Lisboa - Junho de 2009

( Texto de apoio: “ A Afixação Proibida “ )